Perdi a conta dos filmes que vi e dos livros que li em que a protagonista precisava correr contra o tempo para entregar um original ao seu editor.
Pobres escritores atormentados pelo compromisso de entregar trabalhos em prazos muitas vezes impossíveis. Sofrendo com bloqueios criativos e tendo de lidar com crises existenciais e editores cruéis. Ah, a ficção, cheques gordos e muito glamour até nas crises.
Corta para a vida real: escritores produzindo, não tendo nenhum editor para atormentá-los, nenhuma casa editorial esperando pelos seus originais e a frustração de escrever sem saber se um dia chegarão a publicar.
Ok, sem drama, sem culpar a indústria pelas minhas frustrações.
Sim, alguns poucos iluminados chegam a publicar por grandes editoras e recebem tratamento de semideuses. Eles existem, eu juro! E o mérito é todo deles.
No meu caso, geralmente, envio um original e nem recebo resposta. No entanto, contrariando todas as expectativas, uma editora me solicitou um original e eu, que tenho sempre mil projetos em andamento, não tinha nenhum infantil na gaveta para enviar.

Quem me acompanha sabe que meus dois livros publicados, Infância e As Aventuras do Príncipe Ricardinho e do Cavalo Romão, são infantis. Os mais atentos devem lembrar que eu comentei que estava escrevendo uma trilogia juvenil e que, pelas dificuldades relacionadas à publicação de livros infantis (custo com ilustrações e o preço de capa alto por conta das cores), provavelmente não escreveria mais literatura infantil.
Assim sendo, recebi o convite que esperei nos últimos 6 anos e não tinha nada para enviar. Parabéns pra mim!
Nesse meio tempo comecei uma mentoria de escrita para finalizar o projeto da trilogia juvenil (que agora já nem sei se será trilogia), o que me fez refletir sobre a oportunidade de publicar mais um livro infantil.
Fiz o que precisava ser feito: escrevi o livro.
Beleza, agora precisava lidar com a minha insegurança. Eu sempre deixo os livros guardados até me convencer de que podem ser lidos por outras pessoas. No entanto, dessa vez me senti como os escritores das histórias de Hollywood. Eu precisava aproveitar a chance e entregar o original o quanto antes. Enviei para um grupo de amigas e para um amigo escritor, sem deixar o texto amadurecer, algo inédito para mim. Depois que eles aprovaram, enviei para a editora e fiquei aguardando o "Legal, mas não era isso que nós tínhamos em mente." ou, em uma versão pesadelo, "É isso que você escreve? Você é uma fraude!". Mas não aconteceu isso, pelo contrário, a editora adorou e vai publicar o livro.
Continua...
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